A cultura é compreendida como um conceito polissêmico

A cultura é compreendida como os comportamentos, tradições e conhecimentos de um determinado grupo social, incluindo a língua, as comidas típicas, as religiões, música local, artes, vestimenta, entre inúmeros outros aspectos.

Para as ciências sociais (entre elas a sociologia e antropologia), cultura é uma rede de compartilhamento de símbolos, significados e valores de um grupo ou sociedade. São formados artificialmente pelo homem, ou seja, de uma maneira não natural.

A origem da palavra cultura vem do termo em latim colere, que significa cuidar, cultivar e crescer. Por isso o termo também está associado a outras palavras, como a agricultura, que trata do cultivo e crescimento das plantações.

Os elementos que compõem uma cultura são compartilhados pelos membros da sociedade, criando-se, assim, uma identidade cultural.

A cultura brasileira, por exemplo, é conhecida por sua grande mistura de povos, as grandes festas como o carnaval, a diversidade musical e até mesmo pelo bom futebol.

Mas é errado dizer que todos os brasileiros, assim como os cidadãos de outros países, possuem o mesmo comportamento ou reproduzem a mesma cultura pelo qual o seu país é conhecido.

Isso porque cada estado ou pequena região possui sua cultura tipicamente local, com diferentes comidas típicas, estilos musicais, comportamentos, dialetos, entre outros aspectos, que criam a identidade de um determinado grupo social.

A cultura é também um mecanismo cumulativo, porque as modificações trazidas por uma geração passam à geração seguinte.

Ela perde e incorpora outros aspectos, numa forma de melhorar a vivência das novas gerações e acrescentar novos elementos.

Sendo assim, a cultura está sempre em transformação, motivada, em grande parte dos casos, pela troca entre diferentes povos. Aliás, impossível falar de cultura sem falar de troca, aspecto que caracteriza as culturas ao redor do mundo.

Descubra mais sobre o significado de antropologia, diversidade cultural e multiculturalismo.

Tipos de cultura

A cultura popular é a base da cultura de qualquer povo e região. Uma característica importante deste tipo de cultura é que ela começa de baixo para cima, ou seja, são as classes populares quem determinam o que é essa cultura e como ela deve ser reproduzida.

Na cultura popular, seus elementos, como as danças, estilo musical, costume, entre outros, são transmitidos de geração para geração por um povo.

Por exemplo, nas festas, podemos identificar o Frevo, como pertencente ao estado de Pernambuco, e a Chula, do Rio Grande do Sul, criados, consequentemente, pelo povo.

Saiba mais sobre o significado de Cultura popular.

Cultura erudita

A cultura erudita é aquela reproduzida pela classe média ou alta de um povo, como os intelectuais e os artistas, sendo financiada pela elite econômica. É o tipo de cultura que está concentrada no meio acadêmico.

Um grande exemplo foi o movimento do Renascimento. Seus artistas, principalmente os pintores, eram financiados para produzir artes que seriam apreciadas pela elite social da época.

É importante saber que, mesmo sendo considerada uma cultura da elite, a cultura erudita não necessariamente será produzida por estas pessoas, mas sim financiada por elas.

Alguns exemplos da cultura erudita são as exposições em museus, as pinturas, o balé, a ópera, entre outros.

Veja mais sobre a cultura erudita.

Cultura de massa

A cultura de massa une os aspectos da cultura erudita e da cultura popular, transformando-as em uma cultura mais acessível, simples e como entretenimento para o consumo geral.

A cultura de massa se concentra principalmente nas grandes mídias, como a TV e redes sociais, focado no consumo.

Uma grande questão é que, através da cultura de massa, as culturas erudita e popular deixam de ser uma experiência, uma vivência e uma identidade, para se tornarem um conteúdo de entretenimento que pode ser vendido de alguma maneira.

Um exemplo é a pintura da Monalisa, de Leonardo da Vinci. Considerada parte da cultura erudita, a pintura da Monalisa começa ser usada pela cultura de massa em estampas de camisetas, ou com fotos editadas, reproduzidas principalmente nas redes sociais, numa forma de entretenimento.

Um exemplo de cultura popular transformada pela cultura de massa é o sertanejo. Esse estilo musical surgiu nos meios rurais, numa forma de descrever a vida no campo, mas a cultura de massa, através do sertanejo universitário, transformou o estilo em entretenimento acessível a outros públicos.

Veja mais sobre cultura de massa e indústria cultural.

Cultura material

A cultura material são os aspectos da cultura que são tangíveis, ou seja, aqueles que podem ser tocados. São objetos físicos e concretos.

A cultura material são elementos produzidos manualmente pelo ser humano, e que se tornam aspectos físicos da cultura e tradição de um povo.

Alguns exemplos de cultura material são: um cocar indígena, o Pelourinho na Bahia, o Centro Nacional de Ouro Preto, entre diversas outras.

Cultura imaterial

A cultura imaterial é considerada intangível, ou seja, os elementos que não podem ser tocados.

São, basicamente, os costumes e tradições que não são físicas e que precisam ser reproduzidos e vivenciados. Geralmente, um grupo social preserva este tipo de cultura em respeito à sua ancestralidade.

Alguns exemplos de cultura imaterial são a Literatura de Cordel, a Roda de Capoeira, o Frevo, entre outros.

Veja também o significado de cultura brasileira.

Cultura organizacional

A cultura organizacional é o conjunto de hábitos, crenças e normas que estabelecem o comportamento dos funcionários dentro de uma determinada empresa.

A cultura organizacional define os princípios que constroem a identidade de uma organização, a forma como as pessoas se relacionam, se comunicam e se transformam.

Saiba mais sobre o significado de Cultura organizacional.

Elementos da cultura

A cultura é definida por elementos abstratos, ou seja, ideias, crenças, valores e símbolos, e os elementos concretos, ou seja, objetos físicos que formam a sua estrutura.

Estes elementos estão associados às culturas material e imaterial da seguinte forma:

  • Elementos da cultura imaterial: são todas as ideias e símbolos que compõem uma cultura. Esses elementos estruturam uma cultura abstrata, ou seja, são os valores, as crenças, os símbolos e a linguagem que compõe um grupo social.
  • Elementos da cultura material: são todos os objetos físicos que compõe a cultura. Diferente dos imateriais, os elementos materiais da cultura são constituídos por elementos que pode ser tocados, como, por exemplo, as comidas típicas, roupas e monumentos.

Veja também:

Cultura é a forma pela qual seres humanos organizam sua experiência por meio de símbolos. Apesar dessa definição inicial, as pessoas utilizam esse termo em uma variedade de contextos. Afinal, essa palavra se espalhou mundialmente, fazendo com que as pessoas deem diferentes significados para ela. Entenda mais sobre esse importante conceito:

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A cultura é compreendida como um conceito polissêmico
Todo Estudo

Apesar de haver diferentes definições do termo, o caráter simbólico da cultura está quase sempre presente: ou seja, os diversos aspectos da vida humana – suas ações, conhecimentos, crenças ou costumes – estão sempre ligados por símbolos.

Isso significa dizer que existem elementos materiais (por exemplo, uma pintura, uma vestimenta, o sol) e elementos imateriais (a memória, o parentesco, a religião) que são interligados e organizam nossa experiência no mundo.

Em outras palavras, não existem ações humanas em um vácuo cultural. O que vestimos, pensamos, falamos ou comemos está sempre conectado com algo maior que nós mesmos: a cultura.

Origem do termo

A princípio, essa palavra vem do alemão, Kultur. Esse termo foi utilizado por Johann Gottfried von Herder, na Alemanha do século XVIII. Nessa época, França e Inglaterra eram nações dominantes e, portanto, a Alemanha era considerada “atrasada”.

Assim, a elite alemã adotava comportamentos afrancesados, como um sinal de refinamento. Entretanto, Herder criticou essa postura: os alemães deveriam valorizar a sua própria cultura, que era um modo de ser único de seu povo.

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Portanto, a cultura surge em partes como uma forma de contestar as influências de uma nação externa e dominante. Esse fenômeno ainda pode ser observado nos dias atuais. Assim, a cultura aparece também como um posicionamento anti-imperialista.

Cultura na antropologia

A cultura é um dos conceitos mais importantes para a antropologia. Inicialmente, esse termo era tratado como um catálogo de espécie: cada sociedade possuía seu modo de vida distinto, uma língua, uma religião, uma arte.

Contudo, esse sentido do conceito foi se mostrando rígido demais para compreender a real diversidade humana. Conforme as pesquisas antropológicas avançaram, foi confirmado como não é possível verificar uma cultura homogênea e única em uma sociedade.

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Desse modo, o caráter simbólico da cultura se mostrou mais relevante para ser analisado. Autores como Claude Lévi-Strauss, Clifford Geertz, Marshall Sahlins e Manuela Carneiro da Cunha mostram as diferentes formas de pensar essa questão.

Cultura na sociologia

Max Weber, um dos principais autores da sociologia clássica, é uma referência para os estudos de sociologia da cultura. Conforme o autor, seres humanos são animais presos às teias de significado que eles próprios teceram.

Sendo assim, os estudiosos devem analisar e interpretar os sentidos dos comportamentos humanos. Nessa direção, muitos estudos sociológicos estudam fenômenos como o do consumo, a juventude ou as chamadas subculturas.

Cultura na filosofia

As reflexões filosóficas que partem dos próprios filósofos são mais raras. Em geral, os autores parecem se preocupar com questões referentes aos valores ou aspectos universais a todas as culturas humanas.

Entretanto, a própria antropologia se preocupa com problemas filosóficos. Afinal, um de seus objetivos é de demonstrar a existência de uma filosofia ameríndia, uma filosofia zande, e assim por diante. Ou seja, um dos trabalhos antropológicos é o de demonstrar a coerência e a lógica do pensamento de povos considerados “não-civilizados”.

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Frequentemente, a “cultura” é sinônimo de identidade. Isso ocorre em casos como o da “Kultur” de Herder, ou seja, de afirmação do modo de vida de seu povo em contraposição ao que é considerado dominante.

Logo, nesse sentido a “cultura” é um motivo de orgulho e de autoestima para o grupo. É o caso, por exemplo, da cultura surda, da cultura negra ou das culturas indígenas. Todas elas visam ir na contramão de atitudes discriminatórias que visam apagar as diferenças.

“Cultura” como discriminação

Ao contrário, o termo também pode servir como uma forma de discriminação. Frequentemente, essa palavra é sinônimo de civilização ou de refinamento – por exemplo, quando se diz que um indivíduo “tem cultura” ou é “culto”.

Nessa perspectiva, tudo o que não é erudito ou “civilizado” não é considerado cultura e é desprezado. No entanto, trata-se de uma visão inadequada, já que tudo o que envolve a humanidade tem relação com expressões culturais.

Características

  • Simbólica: é a principal distinção do fenômeno cultural, pois diz respeito à capacidade humana de representar, substituir ou conectar elementos e experiências;
  • Plural: não existe uma única, mas diversas expressões culturais em toda a humanidade, não sendo nenhuma delas melhores ou piores em comparação;
  • Transmitida e compartilhada: as práticas culturais são transmitidas por muitas gerações, podendo perdurar até por milênios;
  • Não é determinada pela espécie: a cultura não pode ser explicada apenas por fatores biológicos ligados à espécie humana. Ao contrário, ela possui histórias próprias.

Tipos e exemplos de cultura

A seguir, foram listados alguns exemplos de “cultura” bastante comuns. No entanto, é necessário lembrar que algumas dessas conceituações são inadequadas porque expressam uma discriminação ou juízo de valor sobre elas. Entenda mais:

Cultura erudita

A cultura é compreendida como um conceito polissêmico
Flute concert with Frederik the Great in Sonssouci, Adolph Menzel (1852)

Quando designamos uma expressão cultural como erudita, frequentemente há um juízo de valor positivo sobre ela. Em outras palavras, considera-se essa “cultura” como refinada, culta, científica e sofisticada, enquanto outras são desmerecidas.

Exemplos: música erudita, teatro, pintura acadêmica e gastronomia gourmet.

Cultura popular

A cultura é compreendida como um conceito polissêmico
Pintura de Sérgio Vidal.

Em contrapartida, a cultura popular designa a arte produzida nas classes menos abastadas. Atualmente, sabe-se que essas produções culturais são tão complexas e ricas quanto as ditas eruditas, e essa própria dicotomia pode ser repensada.

Exemplos: Carnaval, samba, folclore, catolicismo popular e comidas típicas.

Cultura de massa

A cultura é compreendida como um conceito polissêmico
Torcedores de futebol em Kazan. CBF (2018)

É comum ouvirmos falar a respeito de uma “cultura de massa”. Esse é um termo que começou com os autores da escola de Frankfurt para falar sobre como expressões artísticas se tornaram mercadoria na indústria cultural. Entretanto, essa denominação guarda alguns preconceitos sobre o que é comercializado e torna-se muito consumido.

Exemplos: futebol, pop, astrologia, Coca-Cola e McDonald’s.

Videoaulas para aprofundar seu estudo sobre culturas

A essa altura, já deve ser possível notar como esse assunto é amplo e envolve muitos sentidos. De fato, pessoas utilizam a noção de “cultura” de formas muito diversas e é preciso entender a importância de cada uso. A seguir, confira uma seleção de vídeos sobre o tema:

O que a antropologia diz sobre cultura

No vídeo acima você poderá revisar e entender melhor sobre o conceito antropológico de cultura. Além disso, a explanação de alguns antropólogos e sua definição do termo podem ajudar a aprofundar mais o assunto.

Etnocentrismo

Uma das questões centrais no debate sobre a cultura é o etnocentrismo. Afinal, conflitos étnicos e culturais sempre existiram ao longo da humanidade. Contudo, a partir de processos como a colonização, o etnocentrismo acabou tomando proporções maiores.

Cultura surda

Você já ouviu falar de cultura surda? De fato, uma das grandes dificuldades que a comunidade surda precisa enfrentar atualmente é o preconceito linguístico com a língua de sinais, muito ligada à sua expressão cultural. Saiba mais.

Cultura negra

Atualmente, o Brasil conta com legislações importantes que defendem o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas. Logo, essas são políticas levantadas pelo movimento negro para uma tentativa de transformar as relações étnico-raciais no país.

Cultura indígena?

Existe uma única cultura indígena? Seriam todos os índios iguais? A resposta é não, e é de grande importância entender como os povos indígenas têm se organizado na atualidade e defendem a sua “cultura” diante das tentativas de seu apagamento.

Portanto, o debate sobre as culturas pode envolver diversos temas – desde uma afirmação identitária, até como um modo de legitimar preconceitos. Em cada caso, é importante não confundir as definições e conduzir uma discussão saudável e com responsabilidade.

Referências

A interpretação das culturas – Clifford Geertz;

Cultura com aspas e outros ensaios – Manuela Carneiro da Cunha;

O “pessimismo sentimental” e a experiência etnográfica: por que a cultura não é um “objeto” em via de extinção (Parte I) – Marshall Sahlins.

Exercícios resolvidos

1. [ENEM]

Parecer CNE/CP nº 3/2004, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Procura-se oferecer uma resposta, entre outras, na área da educação, à demanda da população afrodescendente, no sentido de políticas de ações afirmativas. Propõe a divulgação e a produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial — descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos — para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos igualmente tenham seus direitos garantidos. (BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Disponível em: www.semesp.org.br. Acesso em: 21 nov. 2013). A orientação adotada por esse parecer fundamenta uma política pública e associa o princípio da inclusão social a a) práticas de valorização identitária. b) medidas de compensação econômica. c) dispositivos de liberdade de expressão. d) estratégias de qualificação profissional.

e) instrumentos de modernização jurídica.

Resposta: a

Justificativa: nesse caso, a cultura afro-brasileira é importante para a identidade e a auto-estima do grupo.

2. [ENEM]

No Brasil, a origem do funk e do hip-hop remonta aos anos 1970, quando da proliferação dos chamados “bailes black” nas periferias dos grandes centros urbanos. Embalados pela black music americana, milhares de jovens encontravam nos bailes de final de semana uma alternativa de lazer antes inexistente. Em cidades como o Rio de Janeiro ou São Paulo, formavam-se equipes de som que promoviam bailes onde foi se disseminando um estilo que buscava a valorização da cultura negra, tanto na música como nas roupas e nos penteados. No Rio de Janeiro ficou conhecido como “Black Rio”. A indústria fonográfica descobriu o filão e, lançando discos de “equipe” com as músicas de sucesso nos bailes, difundia a moda pelo restante do país. (DAYRELL, J. A música entra em cena: o rap e o funk na socialização da juventude. Belo Horizonte: UFMG, 2005). A presença da cultura hip-hop no Brasil caracteriza-se como uma forma de a) lazer gerada pela diversidade de práticas artísticas nas periferias urbanas. b) entretenimento inventada pela indústria fonográfica nacional. c) subversão de sua proposta original já nos primeiros bailes. d) afirmação de identidade dos jovens que a praticam.

e) reprodução da cultura musical norte-americana.

Resposta: d

Justificativa: esses movimentos não poderiam se resumir a uma “cultura de massa”, mas também como um importante processo identitário e de valorização do grupo.