Por que observar espécies extintas fez com que Darwin pensava na origem das espécies por evolução

Por que observar espécies extintas fez com que Darwin pensava na origem das espécies por evolução
Charles Darwin em 1868 (Foto: Wikimedia/Julia Margaret Cameron)

Considerado o livro acadêmico mais influente de todos os tempos, A Origem das Espécies faz parte do cânone de todo o amante da ciência. Mas a edição mais conhecida do livro, a sexta, possui várias alterações feitas pelo naturalista Charles Darwin após receber ferrenhas críticas da Igreja, da imprensa e até mesmo da academia.

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Para manter as ideias originais do autor vivas, a Edipro lança a tradução da primeira edição da obra, sem alterações.

A GALILEU conversou com o biólogo Nelio Bizzo, professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e fellow da Royal Society of Biology de Londres. Bizzo é especialista em darwinismo e escreveu o prefácio da nova edição de A Origem das Espécies (Edipro, R$77,90, 480 páginas).

Conheça três mudanças feitas em A Origem da Espécies por pressão da sociedade do século 19:

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1. Epígrafe que vai contra suas ideias

Uma das estratégias usadas por Darwin para amenizar a fúria da crítica foi o acréscimo de mais um trecho na epígrafe de A Origem das Espécies. Além dos parágrafos do anglicano William Whewell e do filósofo Francis Bacon, o naturalista incluiu, na segunda edição, um trecho do bispo anglicano Joseph Butler que falava sobre a importância de milagres e de um “fator inteligente” para a evolução da vida — ideia totalmente oposta a de Darwin.

“É uma epígrafe absolutamente alinhada a uma perspectiva muito conservadora, uma perspectiva que colide totalmente com as ideias do próprio livro”, afirma Bizzo. “A fonte do trecho é Analogy of Revealed Religion, um livro estudado há mais de cem anos que tratava da religião revelada e da religião natural”.

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2. Inclusão da palavra “Criador”

“Há grandiosidade nessa forma de conceber a vida,” escreveu Darwin na última página de sua maior obra, “com seus diversos atributos, como algo soprado em poucas formas ou em apenas uma; e é igualmente grandioso saber que, enquanto este planeta gira de acordo com a lei fixa da gravidade, infinitas formas, as mais belas e maravilhosas, tenham iniciado a partir de uma origem muito simples, e mantenham em marcha sua evolução.”

O termo em itálico chamou atenção da crítica e, por pressão, Darwin colocou o complemento “pelo Criador” neste e em outros trechos do livro. “Na primeira edição, o sopro não tem um agente. Então, para o leitor, fica uma dúvida se isso seria uma figura de linguagem, uma sofisticação literária ou uma licença estilística”, explica Bizzo, que afirma que dificilmente Darwin acreditava no que estava adicionando na segunda edição.

“Parece muito mais uma concessão às críticas que tomaram conta dos meios literários britânicos daquela época”, analisa.

3. Exclusão do parágrafo sobre seleção sexual

Na sexta edição, a última revisada pelo autor e que mais se popularizou, Darwin suprimiu o parágrafo que falava sobre a sua teoria da seleção sexual aplicada aos seres humanos.

Acontece que nesse trecho o cientista dizia que “sem entrar em muitos detalhes, meu [seu] raciocínio pareceria superficial”. Um ano antes da publicação da sexta edição, em 1871, Darwin tinha lançado A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo, que era inteiramente dedicado a discutir essa questão.

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“Portanto, se ele não tivesse suprimido essa frase de A Origem das Espécies, isso seria tomado como um descuido. Porque ele tinha acabado de publicar um livro inteiro sobre isso e tinha entrando em muito detalhes”, explica Bizzo.

Firme às suas ideias

Apesar de fazer algumas pequenas concessões aos críticos em sua obra, para então poder popularizar sua teoria, Darwin tinha convicção da veracidade e relevância de suas ideias. “Todas as alterações foram feitas no sentido de abrandar a radicalidade das ideias da primeira edição”, afirma Bizzo.

Uma das ocasiões em que o naturalista defende sua teoria com todas as palavras acontece em 1861, logo depois de publicar a segunda edição do livro, ao trocar correspondências com o astrônomo William Herschel, um dos cientistas mais renomados da época.

Nas cartas, Herschel, que não era um criacionista puro, diz acreditar em algum direcionamento nos processos evolutivos. Darwin, no entanto, responde que, apesar de parecer que os seres vivos tinham sido projetados de maneira inteligente, ele próprio não conseguia ver nenhuma indicação de que isso realmente tinha acontecido.

*Com a supervisão de Nathan Fernandes

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Por Priscilla Moniz

Professora de Biologia do Colégio Qi

Principal desenvolvedor do evolucionismo, Charles Darwin (1809 – 1882) coletou diversos fósseis e observou milhares de espécies de animais e vegetais. Ele notou que havia espécies com características diferentes umas das outras em regiões distantes e ele também observou isso nos fósseis quando as espécies eram separadas pelo tempo. Sua teoria evolucionista foi aprimorada por outros cientistas para explicar as alterações sofridas pelas diversas espécies de seres vivos ao longo do tempo, em sua relação com o meio ambiente.

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Charles Darwin (Foto: UFRJ)

A história de Darwin começou na Inglaterra. Após desistir da medicina e quase se tornar um sacerdote anglicano, o cientista foi convidado por John Stevens Henslow, um amigo botânico, para expedição ao redor do globo no navio Beagle, que durou aproximadamente 5 anos. Foi durante esse período que Darwin pode fazer suas observações. Hoje, Charles Darwin é considerado o maior naturalista de todos os tempos por suas contribuições cientificas.Em 1838, Darwin leu um livro de Thomas Malthus (1766-1834) e se interessou pelo fato de que, apesar das espécies produzirem um grande número de descendentes, apenas alguns conseguiam sobreviver. Dessa maneira, Darwin concluiu que apenas os indivíduos que possuíssem características benéficas para enfrentar as condições do ambiente poderiam sobreviver e possuir uma maior chance de reproduzir novos descendentes. Sendo assim, nascia a chamada seleção natural em que apenas os animais mais adaptados conseguiriam sobreviver. Alfred Russell Wallace, um zoólogo, chegava a conclusões semelhantes a de Darwin. Em 1859, Darwin publicou seu livro “A Origem das espécies” que também introduziu a ideia de evolução a partir de um ancestral comum.Darwin possuía explicações muito diferentes de Lamarck, visto no módulo anterior, sobre, por exemplo, o pescoço da girava. Para Darwin, em uma população de girafas, os indivíduos que eram mais altos tinham mais chances de se alimentar na escassez de folhas mais próximas do solo, dessa forma, esses indivíduos teriam mais chances de sobreviver. A longo prazo, essas girafas de pescoço comprido aumentaram de maneira gradativa. Darwin só não sabia explicar a origem das variações na população, como as mutações e as leis de Mendel, mas essas explicações vieram depois já que não eram conhecidas na época de Darwin.

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Pensamentos diferentes sobre pescoço das girafas (Foto: Reprodução/Aura Celeste)

Neodarwinismo

Também chamada de teoria sintética, teve contribuição de vários cientistas. Demonstra que a evolução é resultado de vários fatores, como a seleção natural, mutação, migração, entre outros, mostrando que isso gera alteração na frequência relativa dos genes. 

Um fato importante foi a publicação em 1866 das Leis de Mendel, sendo que apenas em 1900 a teoria ganhou relevância, pois chegou a ser ignorada pela comunidade científica. As objeções que Darwin também não sabia explicar foram verificadas por Mendel, o que teve ainda mais relevância nas considerações feitas por Darwin. 

Em 1909, Thomas Morgan (1866 - 1945), um geneticista publicou seu trabalho introduzindo a expressão “alteração genética” que deu ênfase posteriormente para que fosse visto que, a partir de mutações, os indivíduos eram “selecionados” pelo meio ambiente (seleção natural). A mutação pode ser provocada por um defeito no próprio mecanismo de duplicação do DNA; tal defeito pode ocorrer quando o indivíduo está exposto pela radiação ou, frequentemente, pelo raio ultravioleta, por produtos químicos e até mesmo certos vírus.

Uma mutação sem ligação do meio ambiente pode ocorrer, mas é um acontecimento raro, tendo uma frequência muito baixa na população. Essa mutação pode ser vantajosa, mas também pode ser alguma característica que leva à desvantagem, fazendo com que esse indivíduo não sobreviva e, consequentemente, não sendo passada para os descendentes. Outras mutações podem ocorrer pela alteração de genes isoladamente, como é o caso da anemia falciforme. Mais uma possibilidade é a alteração de pedaços inteiros de cromossomos ou até mesmo alteração do número de cromossomos. As alterações transmitidas aos descendentes ocorrem apenas se essas forem produzidas por células germinativas e não pelas células somáticas.

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Os fósseis estudados inicialmente pelo Darwin foram importantes para que mais estudos fossem feitos. Posteriormente foi visto que, ao comparar os fósseis de diversas espécies, como a nadadeira de uma baleia, asa de um morcego, pata de um cavalo e assim por diante, concluiu-se que, apesar de funções diferentes, os órgãos possuíam o mesmo “padrão” e que, provavelmente, eles foram evoluindo a partir de um mesmo órgão, como no caso, a pata. Dessa forma, esse órgão teria se adaptado a diferentes tipos de função para a locomoção. Mais tarde, mais estudos foram feitos e que chegaram à conclusão de que alguns animais teriam a mesma origem embrionária e semelhanças anatômicas, chamadas de órgãos homólogos, e quando a embriologia e anatomia comparada mostravam que esses animais possuíam a origem embrionária e a anatomia diferentes, foram chamados de órgãos análogos, como no caso das asas das aves e insetos, apesar da mesma função.

Exercícios

(Unicamp - 2004) O melanismo industrial tem sido frequentemente citado como exemplo de seleção natural. Esse fenômeno foi observado em Manchester, na Inglaterra, onde, com a industrialização iniciada em 1850, o ar carregado de fuligem e outros poluentes provocou o desaparecimento dos liquens de cor esbranquiçada que viviam no tronco das árvores. Antes da industrialização, esses liquens permitiam a camuflagem de mariposas da espécie Bistonbetularia de cor clara, que eram predominantes. Com o desaparecimento dos liquens e escurecimento dos troncos pela fuligem, as formas escuras das mariposas passaram a predominar.a) Por que esse fenômeno pode ser considerado um exemplo de seleção natural?

b) Como a mudança ocorrida na população seria explicada pela teoria de Lamarck? Respostaa) As mariposas camufladas são menos predadas, portanto são selecionadas pelo meio ambiente.

b) Segundo a teoria de Lamarck, a mudança ocorrida no meio faria com que as mariposas claras fossem alterando seu fenótipo e, portanto, tornando-se escuras. Posteriormente, descendentes já nasceriam com a coloração escura (transmissão hereditária de características adquiridas).

(FGV-2005) É comum que os livros e meios de comunicação representem a evolução do Homo sapiens a partir de uma sucessão progressiva de espécies, como na figura. Coloca-se na extrema esquerda da figura as espécies mais antigas, indivíduos curvados, com braços longos e face simiesca. Completa-se a figura adicionando, sempre à direita, as espécies mais recentes: os australopitecus quase que totalmente eretos, os neandertais, e finaliza-se com o homem moderno. Esta representação é:a) adequada. A evolução do homem deu-se ao longo de uma linha contínua e progressiva. Cada uma das espécies fósseis já encontradas é o ancestral direto de espécies mais recentes e modernas.b) adequada. As espécies representadas na figura demonstram que os homens são descendentes das espécies mais antigas e menos evoluídas da família: gorila e chimpanzé.c) inadequada. Algumas das espécies representadas na figura estão extintas e não deixaram descendentes. A evolução do homem seria melhor representada inserindo-se lacunas entre uma espécie e outra, mantendo-se na figura apenas as espécies ainda existentes.d) inadequada. Algumas das espécies representadas na figura podem não ser ancestrais das espécies seguintes. A evolução do homem seria melhor representada como galhos de um ramo, com cada uma das espécies ocupando a extremidade de cada um dos galhos.

e) inadequada. As espécies representadas na figura foram espécies contemporâneas e, portanto não deveriam ser representadas em fila. A evolução do homem seria melhor representada com as espécies colocadas lado a lado.GabaritoLetra D. A evolução humana seguiu o padrão evolutivo dos demais grupos de seres vivos, ou seja, não se deu numa trajetória contínua em cadeia linear de eventos e sim através de ramos divergentes, alguns produzindo novos grupos e outros simplesmente se extinguindo. É o que deve ter acontecido com os neandertais, cujas evidências fósseis indicam contemporaneidade com o homem moderno até a sua extinção.


(VUNESP - 2006) No intervalo da aula de Biologia, um aluno contou a seguinte piada:Dois cervos conversavam e passeavam pela mata quando um deles gritou:- Uma onça!!! Vamos correr!!!Ao que o outro respondeu:- Não adianta correr, ela é mais veloz que qualquerum de nós.- Eu sei. Mas a mim basta ser mais veloz que você.O diálogo entre os cervos exemplifica um caso de:a) competição interespecífica. b) competição intraespecífica. c) seleção natural.d) irradiação adaptativa.e) mimetismo.

Gabarito

Letra C. O diálogo dos cervos exemplifica um caso de seleção natural, em que os mais adaptados, ou seja, que possuem alguma vantagem sobre o outro, no caso dos cervos, é que terá maior chance de sobreviver ao ataque de um predador.

(UFSCar - 2006) Evolução em ritmo acelerado -Pesquisadores do mundo animal têm chamado a atenção para um fenômeno curioso: há cada vez mais elefantes, principalmente na Ásia, que nascem sem as presas de marfim características dos machos da espécie. (...) O processo é desencadeado pela ação predadora dos caçadores, em busca do valioso marfim...(Veja, 10.08.2005.)a) Que nome se dá ao mecanismo evolutivo proposto por Charles Darwin para explicar a evolução das espécies ao longo do tempo? Não fosse a ação dos caçadores, qual o fenótipo dos animais mais bem adaptados: presença ou ausência de presas?b) Do ponto de vista genético e evolutivo, explique por que está havendo aumento na proporção de elefantes que nascem sem as presas.

Resposta

a) O mecanismo proposto por Charles Darwin para a evolução das espécies é a seleção natural. Se não fosse a ação dos caçadores, os animais mais bem adaptados seriam aqueles com presas.b) A presença ou a ausência de presas é um caráter determinado geneticamente. A pressão seletiva determinada pela caça preferencial de animais com presas favorece a sobrevivência de elefantes sem presas, que têm, assim, maior oportunidade de reprodução e transmissão de seus genes.