Na concepção de linguagem como forma de interação a linguagem e interação humana no social

A LINGUAGEM É UMA FORMA OU UM PROCESSO DE INTERAÇÃO

A concepção da linguagem ainda é bastante debatida entre os linguistas, que até hoje ainda não chegaram a um consenso da sua concepção. Ela é sintetizada de três maneiras diferentes, sendo que o modo que mais utilizamos em nossos relacionamentos com outras pessoas é a de ação e interação. Neste modo, a linguagem funciona como uma “atividade” de ação/interação entre os envolvidos nesta comunicação. Os interlocutores expõe algo ao outro para que este seja induzido a interagir na conversa, que pode ser verbal, não verbal, mista e digital.

Mais do que um instrumento de comunicação e de expressão de pensamento, a linguagem é percebida aqui como um lugar de interação humana, construída socialmente e marcada pelo seu caráter interlocutivo. Nessa concepção, a linguagem não é percebida, simplesmente, como um código para transmitir informações ou uma forma de exteriorizar o pensamento. Quando utilizamos a linguagem estamos interagindo, atuando sobre o outro, influenciando-o e sendo influenciados. A comunicação é percebida como um processo no qual as pessoas envolvidas procuram negociar sentidos, tentando criar significados partilhados. Não é só “passar” informações, mas compartilhá-las. Assim, a linguagem é a possibilidade de interação comunicativa buscando a produção e construção de significados, de sentidos, enfim, de elaboração de conhecimento.

A LINGUAGEM E O SEU USO PRÁTICO É INSEPARÁVEL A VIDA HUMANA. Durante séculos, a linguagem foi considerada um instrumento passivo de comunicação, que permitia ao ser humano apenas descrever o que percebia, sentia ou pensava. Ela expressava algo que tinha existência autônoma e era vista como um instrumento de comunicação. Essa interpretação tem sido fortemente questionada. Hoje se reconhece que, ao falar, o indivíduo não só descreve o que observa, mas atua no mundo e faz com que certas coisas aconteçam. Por meio da linguagem, ele também pode modificar suas relações com os demais e desenvolver sua própria identidade.

A linguagem é geradora. Tanto ao falar, como ao escutar, há uma intervenção ativa na situação enfrentada. Quando se diz a alguém "espero que você reconsidere o fato", "eu lhe perdôo pelo que me fez", "convido você para jantar amanhã", "seu trabalho ficou ótimo" ou " eu te amo"..., não se está descrevendo nada, mas atuando e alterando o que é possível – algo, que provavelmente não aconteceria antes do nosso falar, e que agora pode acontecer. É preciso pensar a linguagem humana como lugar de interação, de constituição das identidades, de representação de papéis, de negociação de sentidos, por palavras, é preciso encarar a linguagem não apenas como representação do mundo e do pensamento ou como instrumento de comunicação, mas sim, acima de tudo, como forma de interação social”. (KOCH, 2003: 128)

Podemos dizer que a linguagem vai além de sua dimensão comunicativa, pois considera que os sujeitos se constituem por meio das interações sociais. A linguagem é considerada uma produção da humanidade e constituída, portanto, como uma prática social. Através dela o homem tem a possibilidade de torna ‐ se sujeito, capaz de construir sua própria trajetória, tornando ‐ se, assim, um ser histórico e social.

AGIMOS MEDIADOS PELA LINGUAGEM A linguagem é, por isso, uma atividade humana, histórica e social. Então, podemos afirmar que é na/pela linguagem que o ser se constitui. Assim, a ação humana se faz pela linguagem, ou seja, a linguagem pode ser entendida como um mecanismo de ação do sujeito; agimos mediados pela linguagem.

Para Bakhtin, todas as esferas da atividade humana estão sempre relacionadas com a utilização da linguagem.

R EFERÊNCIAS FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 13 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1983. KOCH, Ingedore. V. A interação pela linguagem. 8 ed. São Paulo: Contexto, MORAN, José Manuel. Mudanças na Comunicação Pessoal. São Paulo: Paulinas, SLAMA-CAZACU, Tatiana. Psicolingüística aplicada ao ensino de línguas. São Paulo: Pioneira, BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 1995.

Obrigada a todos! Boa noite!

Existem as mais diversas concepções sobre a linguagem humana, mas vamos nos deter em três delas:
1. A linguagem como reflexo do mundo e do pensamento do indivíduo sobre este mundo. Para se comunicar bem, era necessário estudar a gramática normativa;

2. A segunda concepção vê a linguagem como instrumento de comunicação. Nela, a fala é desconsiderada e há ênfase nos elementos da comunicação (emissor, receptor, código, canal, mensagem e contexto) e suas respectivas funções (emotiva, conativa, metalinguística, fática, poética e referencial);

3. E a terceira entende a linguagem como forma de interação entre os sujeitos da língua, agindo e interagindo com os mais diferentes objetivos.
As duas primeiras abordagens focalizam a linguagem isoladamente, sem uso real, ou seja, a língua é vista em separado do contexto; o que não se aplica à 3ª concepção. O estruturalismo de Saussure e o Gerativismo de Chomsky evidenciam bem isso.

Então, o sociointeracionismo surge como resposta a essas ideias, tentando mostrar que o estudo linguístico deve se basear na relação existente entre o usuário e o contexto de uso da língua.

Geraldi (1997) estabelece que o sujeito, como ser social, interage e a linguagem é resultado de trabalho social e histórico (não individual) do usuário e de seus interlocutores.

Surgem, daí, a Linguística Textual, a Análise da Conversação, a Análise do discurso, a Pragmática, que tem como foco “as manifestações linguísticas produzidas por indivíduos concretos em situações concretas, sob determinadas condições de produção”.

Compreender a linguagem como interação é a principal vertente de Bakhtin e seu Círculo, filósofos que enxergaram na linguagem a multiplicidade de vozes que compõem a singularidade do ser humano.

Seu caráter filosófico não exclui a consistência científica do estudo linguístico, o qual especifica o cunho responsivo da linguagem, ou seja, o eu não existe sem o outro. O ser para se tornar como tal precisa ser reconhecido, ouvido, respeitado… Essa característica filosófica vai embasar aquilo que Bakhtin e Voloshinov discutem em seus textos em relação à linguagem.

A interação surge, então, como a priori da comunicação humana; o estruturalismo saussuriano não responde a todas as questões linguísticas da época, sendo apenas um recorte sincrônico e diacrônico do fenômeno da comunicação. Tal recorte não é excluído por Bakhtin, mas ele ressalta a ideia de que a linguagem só se concretiza com a interação.

O sociointeracionismo estrutura-se na intersubjetividade, com a estruturação de turnos, a troca de pontos de vista e a transmissão de mensagens. Desses princípios, surge a teoria dos gêneros do discurso, em que importa a finalidade comunicativa do texto em relação ao outro, ou seja, o que eu quero dizer para o meu interlocutor? Qual o efeito de sentido que eu desejo produzir no receptor da minha mensagem? Qual modalidade deverá ser utilizada para tal fim? Em todas essas questões, deve-se objetivar a comunicação, a interação.

Nesta nova visão linguística, a Pragmática oferece sua contribuição com o estudo da língua relacionado a fatores contextuais e discursivos, tendo como foco de análise os usos e não as formas.

Na atualidade, o trabalho com a Língua Portuguesa, levando em consideração as ideias bakhtinianas, deve enfatizar os seguintes pontos:
• As relações entre as diversas variantes linguísticas – em que momento devo usar uma variante mais ou menos formal;

• As relações entre fala e escrita no uso real da língua – qual a modalidade mais adequada para determinado contexto;

• A organização do léxico e a exploração do vocabulário;

• A organização das intenções e os processos pragmáticos – em que contexto comunicativo me encontro para atingir determinado objetivo;

• As estratégias de redação e questões de estilo – como irei compor meu texto, considerando meu conhecimento de mundo e linguístico;

• A progressão temática e a organização tópica – quais informações devem ser expostas primeiro e de que forma elas se encadearão;

• A questão da leitura e da compreensão – a partir do incentivo a tal prática, serão desenvolvidas outras competências linguísticas;

• O treinamento do raciocínio e da argumentação – partindo do meu conhecimento de mundo, estruturarei meu texto e sua base argumentativa;

• O estudo dos gêneros textuais – em determinada situação comunicativa, disporei de algumas formas relativamente estáveis para interagir com o outro;

• O treinamento da ampliação, redução e resumo do texto – como extrair a tese defendida em determinado texto.


Assim, percebemos que o tratamento dado à língua enfatizará o estudo das formas de uso, das variantes, das modalidades, das diferentes formas de interagir, de maneira crítica. Já é sabido que as duas modalidades, oral e escrita, são práticas inerentes à língua e que não constituem uma dicotomia. Os usos é que dão status a cada uma delas, conferindo-lhes poder de expressão e de convencimento em dada circunstância.

Ao observar as variações linguísticas, percebemos que elas não acontecem ao acaso, como se cada indivíduo falasse à sua maneira. Há algumas ideias importantes acerca disso:1. Nenhuma língua é imutável, toda língua se modifica com o passar do tempo;2. O que é considerado padrão numa época pode ser ultrapassado em outra;3. As variantes não padrões devem ser tratadas como fenômenos linguísticos regulares.

A língua pode, então, variar em função de:

1. Da identidade social do emissor;

2. Da identidade social do receptor;

3. Das condições sociais de produção discursiva.

Daí, o falante deve possuir alto grau de flexibilidade da língua para usá-la de acordo com o contexto, com seu interlocutor, com seu objetivo comunicativo etc. sendo assim, todos os falantes são capazes de adaptar seu estilo de fala à diversidade das circunstâncias sociais da interação verbal, e de discernir que formas alternativas são as mais apropriadas.

Tendo essa capacidade em vista, a escola deve proporcionar reflexões acerca dos variados usos da língua, sem apresentar a norma padrão como a única aceita nem a do aprendiz como a estigmatizada, como a errada. É dessa singularidade, ou melhor, é desse ensino plural que os estudantes poderão desenvolver suas competências linguísticas para interagir em diferentes contextos de uso. O ensino da variedade padrão continua a ser dever da escola e um direito do aluno, mas não precisa ser substitutivo e, por isso, não implica a erradicação das variedades não padrões.

A escola, seguindo este caminho, deve permitir o contato com situações de uso da língua, que Beth Marcuschi tão bem denomina de ‘redação mimética’, quando o discente apreende diferentes maneiras de construir um texto para que possa elaborar seu próprio estilo de produção textual.
Para enfatizar tal abordagem, temos as palavras de Joaquim Fonseca:

“a preparação do aluno para a produção ágil dos seus discursos alheios – no que se conseguirá que ele obtenha uma maior eficácia na atuação social, um maior sucesso na descoberta de si mesmo e na sua intervenção na prática social.”
Enfim, o ensino da Língua Portuguesa deve ter como foco o uso e a interação, numa visão pragmática da linguagem.

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