A cultura popular na idade media e no renascimento pdf

Kindle ClippingsKindle Mate, 06/05/2019 21:56:09A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais (Mikhail Bakhtin)literatura do século XVI terminou, por assim dizer, sob o signo de Rabelais; no domínio da sátira política,Outros fatos provam de forma cabal que Rabelais era compreendido e amado por seus contemporâneos: refiro-me às numerosas e profundas marcas de sua influência, e ao grande número de imitadores seus. Quase todos os prosadores do século XVI que o sucederam (mais exatamente, que escreveram depois da publicação dos dois primeiros livros), como por exemplo Bonaventure des Périers, Noel du Fail, Guillaume Bouchet, Jacques Tahureau, Nicolas ds Cholières, etc., inspiraram-se em maior ou menor grau na veia rabelaisiana.O florescimento do realismo grotesco é o sistema de imagens da cultura cômica popular da Idade Média e o seu apogeu é a literatura do Renascimento./ê imprescindível conhecer o realismo grotesco para compreender o realismo do Renascimento, e outras numerosas manifestações dos períodos posteriores do realismo.As degradações (paródicas e de outros tipos) são também características da literatura do Renascimento, que perpetua desta forma as melhores tradições da cultura cômica popular (de modo particular-/mente completo e profundo em Rabelais).paródia moderna também degrada, mas com um caráter exclusivamente negativo, carente de ambivalência regeneradora.O realismo grotesco não conhece outro baixo; o baixo é a terra que dá vida, e o seio corporal; n baixo é sempre o começo.todas as formas do. realismo grotesco, foi sempre ligado ao baixo material e corporal. O tíso degrada e materializa.O porta-voz do pnqçípio material e corporal não é aqui nem o ser biológico isolado nem-Q-egoísta-indivíduo burguês, mas o povo, um povo que na sua evolução...No realismo grotesco, o elemento material e corporal é um princípio profundamente positivo, que nem aparece sob uma forma egoísta, nem separado dos demais aspectos da vida. O princípio material e corporal é percebido como universal P popular^.e.

£Ia_entanto, as imagens referentes ao princípio material e corporaj em Rabelais (e nos demais autores do Renascimento) são a herança (um pouco modificada, para dizer a verdade) da cultura cômica popular, de üm tipcTpecuIiar de imagens e, mais amplamente, de uma concepção estética da vida prática que caracteriza essa cultura e a Hifcran<-.ia>Alguns a interpretaram como uma “reabilitação da carne” típica da época, surgida como reaçãoAlguns batizaram a Rabelais como o grande poeta “da carne” e “do ventre” (Victor Hugo, por exemplo).Costuma-se assinalar a predominância excepcional que tem na obra de Rabelais o princípio'da vida material e corporal: imagens do corpo, da bebida, da comida, da satisfação de necessidades naturais, e da vida sexual. São imagens exageradas e hipertrofiadas.F.ssfis hlasfêmias eram amhivalentes: embora degradassem e mortificassem, simultaneamente regeneravam e renovavam.literatura cômica latina da Idade Média chegou à sua apoteose durante o apogeu do Renascimento, com o Elogio da loucura de ErasmoSagrada Escritura (Bíblia e Evangelhos). Essa paródia estava autorizada pela tradição do “riso pascal” (risus paschalis) livre;Nessa literatura, o riso era ambivalente e festivo. Por sua vez, essa literatura era uma literatura festiva e recreativa, típica da Idade Média.Rabelais foi o grande porta-voz do riso carnavalesco popular na literatura mundial. Sua obra permite-nos penetrar na natureza complexa e profunda desse riso.segunda vida do povo, o qual penetrava temporariamente no reino utópico da universalidade, liberdade, igualdade e abundância.segunda vida do povo, o qual penetrava temporariamente no reino utópico da universalidade,Claro, Rabelais é difícil. Em compensação, a sua obra, se convenientemente decifrada, permite iluminar a cultura cômica popular de vários milênios, da qual Rabelais foi o eminente porta-voz na literatura:Se Rabelais é o mais difícil dos autores clássicos, é porque exige, para ser compreendido, a reformulação radical de todas as concepções artísticas e ideológicas,isentos de afinidades, enquanto que as imagens de Rabelais estão perfeitamente posicionadas dentro da evolução milenar da cultura popular.“caráter não-oficial”, indestrutível e categórico, de tal modo que não há dogmatismo, autoridade nem formalidade unilateral que possa harmonizar-se com as imagens rabelaisianas,possa harmonizar-se com as imagenstambém esse caráter popular que explica “o aspecto não-literário” de Rabelais,Para nós, entretanto, sua principal qualidade é de estar ligado mais profunda e estreitamente que os outros as fontes populares,Não resta dúvida de que o lugar histórico que ele ocupa entre os criadores da nova litei atura européia está indiscutivelmente ao lado de Dante, Boccaccio, Shakespeare e Cervantes.“Rabelais recolheu sabedoria na corrente popular dos antigos dialetos, dos refrães, doS-.pr.ovérbios, das farsas dos estudantes, na boca dos simples e dos loucos.Na prática, a festa oficial olhava apenas para trás, para o passado de que se servia para consagrar a ordem social presente.Por outro lado, as festas oficiais da Idade Média — tanto as da Igreja como as do Estado feudal — não arrancavam o povo à ordem existente, não criavam essa segunda vida. Pelo contrário, apenas contribuíam para consagrar, sancionar o regime em vigor, para fortificá-lo.Por outro lado, as festas oficiais da Idade Média — tanto as da Igreja como as do Estado feudal — não arrancavam o povo à ordem existente, não criavam essa segunda vida.Na sua base, encontra-se constantemente uma concepção determinada e concreta do tempo natural (cósmico), biológico e histórico.A sua sanção deve emanar não do mundo dos meios e condições indispensáveis, mas daquele dos fins superiores da existência humana, isto é, do mundo dos ideais.O carnaval é a segunda vida do povo, baseada no princípio do riso. É a sua vida festiva.Em resumo, durante o carnaval é a própria vida que representa,Os espectadores não assistem ao carnaval, eles o vivem, uma vez que o carnaval pela sua própria natureza existe para todo o povo.pareciam ter construído,. ao lado do mundo oficial, um segundo mundo e uma segunda vida1

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